Cinco testemunhas depõem no terceiro dia do julgamento da fraude do IPTU de Taboão
O ex-secretário Salvador Vicente Grisafi foi a primeira testemunha a depor nesta quarta-feira, 23, terceiro dia de julgamento do processo que investiga a fraude do IPTU em Taboão da Serra. Depois dele outras quatro testemunhas foram ouvidas pelo juiz Guilherme Alves Lamas. As declarações de Salvador Grisafi fortaleceram a tese levantada anteriormente pelos advogados de defesa dos réus, apontando a existência de interesse político por parte do investigador chefe Ivan Jerônimo da Silva, já falecido, responsável pelas prisões de todos os 26 acusados de participação na fraude.
O ex-secretário relatou dois encontros que manteve com o investigador visando tratar da sua candidatura a prefeito de Taboão. Confirmou que várias lideranças políticas da cidade, inclusive ele, se filiou ao PMDB para apoiar a pré-candidatura do então investigador. Grisafi chegou a dizer que Ivan via como desafetos os ex-vereadores Eloi e Carlos Andrade, por força política.
“A operação levantou o nome do Ivan na cidade. Antes dela não posso dizer que ele tinha interesse político e nem afirmar que esse processo todo foi construído com esse fim. O fato é que ele lançou a pré-candidatura e se reuniu com várias pessoas, inclusive comigo. Ele sempre tinha alguém dirigindo para ele que ia levá-lo aos locais e buscá-lo, mas não participava da conversa”.
“Segundo o Dr. Fábio o médico da família recomendou que o Ivan se afastasse da política e da polícia para não agravar o seu quadro emocional. Umas semanas antes de morrer ficou internado num hospital que eu não sei precisar”, contou.
No final do depoimento Salvador relatou que no dia em que morreu Ivan tinha acabado de ser informado por policiais sobre a troca da cúpula da seccional de Taboão da Serra e sobre as movimentações do processo que respondia na corregedoria.
“Tivemos dois fatos. A baixa do IPTU, as prisões e logo depois a construção da candidatura do Ivan. Só não posso dizer se isso estava embutido na mente dele antes", disse.
Durante o depoimento do ex-secretário os advogados de defesa dos réus pediram o indiciamento do policial Ronaldo Nogueira por falso testemunho, depois que Grisafi revelou que o policial teria levado o investigador Ivan para encontros políticos com ele. “O Ivan nunca andava sozinho. O Ronaldo era unha e carne com ele, se não soubesse do desejo do Ivan ser prefeito ninguém mais saberia”, apontou.
No período da tarde, o sistema Conam foi amplamente detalhado. O diretor da empresa e na época das baixas indevidas, gerente da rede de informações, Douglas Rodrigues Caetano explicou que a prefeitura de Taboão entrou em contato com ele no início de fevereiro comunicando a diferença nos cofres públicos. Depois disso, reuniões com secretários, prefeito e servidores do sistema de informação foram realizadas a fim de detectar de qual máquina e que setor estavam sendo feitas as baixas. Ele sugeriu ainda que a prefeitura em conjunto com a Conam fizesse um monitoramento das próximas baixas que foram descobertas no setor de cadastro, usuário Zelda e máquina 5. "Todos os dias tinham baixas", afirmou.
Ele revelou ainda que logo depois das prisões foi feita outra reunião com o prefeito e secretários e a dívida foi reescrita à prefeitura, a fim de virar crédito todo o valor que foi baixado durante a fraude. Douglas esclareceu que o balanço da dívida ativa é feita anualmente, não por mês como consta no relatório policial sobre a investigação, segundo a defesa dos réus Valladão e Teresa e afirmou que todas as baixas que não constam no caixa da prefeitura é considerada irregular.
Questionado sobre a defesa de Carlos Andrade e sua esposa, Claudia, sobre a possibilidade do sistema da Conam ser falho, Douglas disse não entender dessa forma. "Essa é uma forma que usam para se defenderem", frisou. Ele disse ainda que os relatórios feitos pela empresa, não reflete a análise de caso a caso da prefeitura.
O funcionário da empresa, Rinaldo de Abreu salientou sobre a implantação de um sistema que monitoraria as baixas e no momento em que foi instalado, foi constatado a baixa realizada por Márcio Carra, o local foi levantado e Carra confirmou que estava usando o usuário Zelda. Rinaldo disse que fez todo o levantamento para levar para a Delegacia Seccional e ainda listou que esse procedimento utilizado por Carra era indevido, uma vez que era necessário um comprovante de pagamento e ele não tinha, procedimento esse que é feito quando se realizam baixas, já os cancelamentos são feitos por meio de processos administrativos.
No depoimento de Rinaldo veio a tona um possível falso testemunho, da testemunha preservada na audiência da última terça-feira - relembre aqui. Ele negou que tenha falado no nome de José Elói e ainda Marcelo Cavalo pelo telefone. A defesa do réu José Elói sustenta que ela mentiu ao afirmar que após uma reunião com secretários municipais, Rinaldo tenha saído falando ao telefone com uma pessoa e dito que o Marcelo Cavalo, foragido jamais iria se entregar e ainda não era para cair "os grandões", na ocasião, a promotora questionou quem seriam os grandões, a testemunha afirmou que seria Elói.
Para encerrar os trabalhos desta quarta, a ex-servidora da prefeitura, Carla Borba Ferreira prestou seu depoimento. Ela disse que notou uma diferença nas contas da prefeitura em três de janeiro de R$ 560 mil para R$ 14 mil, neste momento avisou o Valter e ligou no suporte da Conam. "Sempre que existiam divergências de valores entrava em contato com a Conam", frisou.