Vítima do crack é internada pela 2ª vez em Taboão

Aos 17 anos e no sexto mês de gestação, a menor E.F.P., moradora do Jardim Santa Luzia, em Embu das Artes, será internada pela 2ª vez em uma clínica para reabilitação, 15 dias após ficar três meses sob tratamento no mesmo local. Usuária de drogas desde os 12 anos havia saído de casa na última sexta-feira, 22/06, e só fora encontrada na manhã desta segunda, 25, sob efeito de entorpecentes, em um bar de Taboão da Serra.

“Hoje madruguei e já fui até Itapecerica da Serra buscar os documentos dela. Eu a acompanho no pré-natal e deve fazer um ultrassom daqui a apouco”, disse o companheiro e pai da criança, o açougueiro J.C.S., 34, a agentes da guarda civil do município.  Bastante alterada emocionalmente, a menor o acusava de tê-la agredido.

J.C.S, que portava documentos pessoais da gestante e histórico com seus acompanhamentos médicos, negou as agregações. “Ela ainda está sob efeito das drogas, acabo de encontrá-la perto de uma ‘boca’”, contou. “Eu parei quando descobri que estava grávida”, negou a menor. Sua versão, no entanto, fora contestada após revista.

Os agentes encontraram no bolso do casaco da adolescente, um cachimbo improvisado, ainda papel alumínio que simulava um filtro, geralmente utilizado para aspirar o produto.  A luta de J.C.S em prol de sua namorada e bem estar do feto se assemelha à de milhões de outros brasileiros, que se tornam reféns do vício, e têm sua vida mudada.

Ex-gerente de um açougue na cidade de Taboão, ele perdeu o cargo quando seu desempenho no trabalho fora prejudicado pela atenção dispensada à namorada. “A família já lavou as mãos. Quando ela se internou, larguei tudo e fiquei com ela na clínica”, desabafou o desempregado, que não conseguiu mais emprego desde então.

Os guardas conduziram a adolescente e seu companheiro ao Pronto Socorro e Maternidade, pois esta reclamava de dores na região da barriga. Os pais da adolescente compareceram ao local e disseram que não estão mais dispostos a cuidar da filha. “Agora o que me interessa é só a criança. Nunca deixei faltar nada pra ela”, disse o pai.

De acordo com o genitor, ela se torna maior em breve e está disposto a tomar para si a guarda da criança. Apesar da rotina sem regras, o feto da menor está morfologicamente bem (sem problemas na formação), segundo ultrassom, embora ainda não seja possível prever os danos causados ao longo de sua vida, pelo uso das drogas na gestação.

Danos irreversíveis

O estado de saúde do feto da menor E.F.P é caso raro, a julgar por sua rotina durante a gestação, se considerados estudos feitos sobre a combinação perigosa de gravidez com uso de drogas. A gestante tem 70% mais chances de ter um aborto espontâneo e 40% de dar à luz antes da hora. Baixo peso e altura, além do risco de má formação do feto, complicações cardíacas e risco da síndrome da morte súbita infantil também são esperados.

Há ainda a possibilidade de a criança nascer com tendência à dependência química. Alguns estudos comprovam que as drogas podem causar danos à inteligência e ao rendimento intelectual da criança e que estaria associado a distúrbios do comportamento e a ocorrência de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Além desses problemas no curto prazo, ronda ainda o fantasma de doenças futuras.

Uma pesquisa recente da American Heart Association (Associação Cardíaca Americana) mostrou que gestantes que fazem uso de drogas aumentam os riscos de seus filhos terem derrame e ataque cardíaco quando adultos, já que os descendentes tendem a ter paredes das artérias carótidas na nuca mais grossas (a espessura das paredes internas das artérias da nuca é usada para determinar o nível da aterosclerose). 

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