Polícia e MP garantem que grupo de Aprígio forjou atentado para influenciar eleição

O delegado Seccional de Taboão da Serra, Hélio Bressan, e os promotores do Gaeco, Juliano Carvalho Atoji e Letícia Rosa Ravacci, concederam entrevista coletiva para repercutir a operação policial "Fato Oculto" que realizou busca e apreensão em vários endereços da cidade no âmbito das investigações sobre o atendado contra o ex-prefeito José Aprígio (Podemos). A Polícia e o MP já sabem que o atentado foi "produzido" por integrantes políticos do grupo do ex-prefeito para tentar alavancar a candidatura de Aprígio. 

As investigações estão em andamento. Os acusados vão responder pelos crimes. O ex-prefeito nega envolvimento no caso. A polícia acredita que as buscas e apreensões vão ajudar a fomentar pedidos de prisão dos acusados de planejar os ataques. Entre os envolvidos estariam três ex-secretários municipais.

Trecho relatório policial divulgado pela Globo citam que 
ex-prefeito pagou R$ 85 mil pelo fuzil usado na falsa tentativa de homicídio contra ele e seus secretários participaram da negociação que daria R$ 500 mil para cinco atiradores e comparsas.

As informações acima fazem parte da colaboração premiada que um dos três presos no caso fez com o Ministério Público (MP). O acordo foi homologado pela Justiça e faz parte do inquérito da Polícia Civil que investiga Aprigio e pelo menos mais nove pessoas por associação criminosa e tentativa de homicídio.


"José Aprigio queria contratá-los para 'dar um susto' nele, a fim de chamar a atenção da mídia e poder alavancar a candidatura à prefeitura municipal", informa o que o preso colaborador falou num trecho do documento ao qual a equipe de reportagem teve acesso.

Foi por causa dessa colaboração e de outras provas da investigação que a Delegacia Seccional e a Promotoria da cidade, realizaram nesta segunda-feira (17) a "Operação Fato Oculto" para tentar prender alguns dos envolvidos na fraude.

Além do ex-prefeito, três secretários, um sobrinho do ex-prefeito, e mais cinco pessoas são suspeitos de planejarem a farsa para que Aprígio conseguisse a reeleição. Ele era prefeito à época e disputava o segundo turno com Engenheiro Daniel (União Brasil), que venceu a eleição.

No dia 18 de outubro de 2024, Aprígio foi baleado e ferido no ombro esquerdo por um tiro de fuzil disparado de um veículo. A bala perfurou o carro blindado do político e os executores fugiram pela Avenida Aprígio Bezerra da Silva, que leva o nome do pai dele.
Seis disparos furaram a lataria e o vidro do automóvel. Seu motorista, um secretário e um fotógrafo estavam juntos, mas não foram atingidos.

No entanto, de acordo com as autoridades, o ataque a tiros foi uma simulação combinada para dar a impressão de que o então prefeito tinha sofrido um atentado. 

Segundo a investigação, o objetivo da simulação era fazer com que Aprígio sensibilizasse os eleitores para votarem nele e, assim, ganhar a eleição.

Segundo o preso colaborador, só não estava previsto o fato de que os tiros de fuzil atravessariam a blindagem e atingiriam o prefeito. "Foi o próprio prefeito quem pediu para atirar no vidro do veículo" pois ele e seus secretários acreditavam que os disparos não perfurariam os vidros blindados.

De acordo com policiais, a blindagem do carro do prefeito seria resistente somente a tiros de armas de menor calibre.

Vídeos gravados pela comitiva de Aprígio o mostravam sangrando no carro. Depois, foram feitas postagens do prefeito no hospital contando que havia fraturado a clavícula. Todas as imagens foram postadas nas redes sociais do político e acabaram viralizando (veja nesta reportagem). Mesmo assim, Aprígio não conseguiu se reeleger.

Ao menos dez pessoas são investigadas por suspeita de envolvimento no falso ataque a tiros contra o então prefeito Aprígio. Para o promotor Juliano Carvalho Atoji não há dúvida que foi um plano do grupo político dele.
Além de associação criminosa e tentativa de homicídio, eles são investigados também por incêndio e adulteração de veículo. "Os demais ocupantes do veículo oficial foram expostos a risco concreto de morte em razão dos disparos de fuzis", diz um dos trechos do relatório da polícia sobre o caso.

Segundo a investigação, José Vanderlei Santos (que era secretário de Transportes), Ricardo Rezende Garcia (que foi secretário de Obras), e Valdemar Aprígio da Silva (então secretário de Manutenção e irmão do prefeito), planejaram a simulação de um atentado político a Aprígio. Valdemar foi preso na operação desta segunda, mas por porte ilegal de arma.

Eles ainda tiveram a ajuda do sobrinho do prefeito Cristian Lima Silva, que já havia sido investigado pela polícia em Alagoas por ter forjado um ataque contra si mesmo em 2020, na cidade de Minador do Negrão.

De acordo com as autoridades, em 2024, os secretários de Aprígio fizeram contato com dois homens, Anderson da Silva Moura, o "Gordão", e Clovis Reis de Oliveira, para que eles contratassem atiradores para executarem o plano. Anderson foi preso nesta segunda pela polícia e Clovis continua foragido.

Ainda segundo a investigação, Anderson e Clovis contrataram Gilmar de Jesus Santos, o atirador, e Odair Júnior de Santana, que dirigiu o veículo que emparelhou com o carro de Aprigio.

A arma usada na fraude, um fuzil AK-47, foi comprada por R$ 85 mil. Tanto Gilmar quanto Odair atiraram com a mesma arma no veículo de Aprígio.

Os executores receberiam R$ 500 mil, no total, para simularem o ataque. O dinheiro seria dividido em quatro partes iguais, entre Gilmar, Odair. Anderson e Clovis. Daria R$ 100 mil para cada um.

Gilmar foi preso pela polícia ainda em 2024 durante a investigação. Odair e Jefferson Ferreira de Souza, que ajudou a dupla na fuga, colocando fogo no automóvel que usaram, estão foragidos e também são procurados.
A polícia e a Promotoria apreenderam armas nos endereços de alguns dos investigados, mas o fuzil usado na farsa ainda não foi encontrado. 

As autoridades chegaram a pedir as prisões dos três secretários e do sobrinho de Aprígio, mas a Justiça não concordou. E só autorizou fazerem buscas e apreensões nos imóveis dos investigados e de pessoas ligadas a eles. Na casa de Aprígio, por exemplo, foram encontrados e apreendidos R$ 320 mil em dinheiro.

Diante da conclusão da investigação, a hipótese de que Aprígio foi vítima de um atentado político acabou descartada. A equipe de reportagem tenta contatar todos os demais citados para comentarem o assunto.

Da Redação do Jornal na Net

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