Criminosos que roubam motos na Régis para vender e ostentar são presos
27/10/2022 | Outro autor
No dia último dia 21 de outubro, um homem de 47 anos pilotava uma Harley-Davidson, avaliada em cerca de R$ 50 mil, quando foi surpreendido por tiros de assaltantes na Rodovia Régis Bittencourt, na altura de Itapecerica da Serra. O velocímetro e o capacete foram atingidos por estilhaços dos tiros.
A ação foi gravada por uma câmera que ele carregava no capacete. As imagens circularam nas redes sociais e chocaram pela violência. Mas outras imagens levaram a Polícia Civil aos dois assaltantes: as feitas por um deles, menor de idade, se exibindo com as motos caras que conseguia. O menor foi apreendido, e o seu parceiro, preso. Eles haviam atacado outro motociclista no dia 16.
O caso mostrou um objetivo novo entre os ladrões de motocicleta: se as mais baratas são revendidas ilegalmente, as mais caras se tornaram símbolos de ostentação dos criminosos.
— Cada vez miram em motos de maiores valores, às vezes só para se exibir em seus redutos, porque elas acabam encontradas destruídas e abandonadas depois. O motociclista isolado se torna um alvo fácil, e o roubo é uma forma de se levar vantagem rapidamente. Os motoclubes se protegem andando em grupos e buscando conhecer o trajeto do passeio e os seus riscos, mas nem sempre é possível — conta Tulio Augusto Martins Siqueira, presidente da Federação dos Motoclubes do Estado de São Paulo, sobre o interesse que parece crescente dos criminosos por marcas mais valiosas, segundo os motociclistas.
— Eu estava voltando de uma viagem a Blumenau (SC) com amigos, para a Oktoberfest. Na ida, já tínhamos ficado sabendo que haviam roubado uma moto ali perto, também uma BMW. Já fomos preocupados. Voltando, na altura de Itapecerica da Serra, eu estava atento e consegui avistar os dois homens próximos à nossa pista que queriam nos assaltar. Tentamos fugir, mas o trânsito parou e eles gritaram que iam atirar nas nossas costas. Um deles estava muito nervoso, então parei — conta José Sidney Pereira, de 50 anos, sobre o ataque do dia 16. — Levaram nossos capacetes, pertences, tentaram tirar até minha aliança. E levaram minha moto.
Pereira conhece o homem atacado no dia 21:
— Nosso amigo ia para Curitiba e foi alvo daquele tiro que, graças a Deus, só pegou de raspão no capacete e no painel. Fazemos parte de um grupo de motociclistas de Embu das Artes, e posso dizer que a coisa por aqui está bem complicada.
De janeiro a agosto deste ano, bandidos armados já roubaram no estado de São Paulo 13.133 motocicletas, desde lambretas a veículos populares e de luxo. O número é 29% maior que os 10.175 casos registrados em delegacias no mesmo período do ano passado. Em 2021, a Secretaria de Segurança contabilizou ao todo 17 mil ataques a motos.
Confusão em ataque
— Há quadrilhas focadas no roubo de motocicletas de alta cilindrada e outras em mais básicas. Ontem (terça-feira), prendi um suspeito que estava roubando uma CG 125 — conta o delegado Roberto Hellmeister, da Delegacia de Itapacerica da Serra. — As menos potentes são para desmonte e venda de peças a granel no mercado ilegal. Nas de alto luxo, pode haver até remarcação de chassi e revenda. O que favorece e incentiva esse crime são as pessoas que têm motocicletas e vão atrás dos mercados paralelos.
Hellmeister acredita que os criminosos que atiraram contra o condutor da Harley-Davidson estariam atrás de uma BMW. Segundo ele, donos da motocicletas americana não buscam peças ou veículos em revendas não-autorizadas, o que explica até o baixo número dessas motos roubadas no estado: sete em 2022 e três em 2021, segundo a Secretaria de Segurança Pública. O valor dessas motos pode chegar até a R$ 70 mil.
— Eu sou “harleyro”, e conversando com outros harleyros, concluí que fizeram uma das abordagens achando que era uma BMW, pela semelhança. O dono de Harley-Davidson, geralmente, só compra em locais específicos.
Entre as fabricantes mais caras, há muitos casos de roubo de motos velozes da marca Kawasaki. Foram 519 em 2022.
As motos mais roubadas de janeiro até agosto, segundo a Secretaria de Segurança, são as mais populares, da Honda (7,8 mil) e Yamaha (2,6 mil), seguidas por Kawasakis (519) e BMW (447), o que reforça o interesse de criminosos também nos veículos de luxo. Os modelos mais visados são a Honda CG 160 Fan e a Titan. Seguidos pela Yamaha FZ25 Fazer, uma das mais populares do mercado, muito usada por motoboys.
Os dados levantados pelo GLOBO indicam que a maioria dos assaltos é na capital (5.491). Os dois bairros que lideram o ranking ficam na Zona Sul: Jardim ngela (238 casos) e Capão Redondo (207 casos), onde a dupla capturada por ter abordado motociclistas na Rodovia Régis Bittencourt foi encontrada. Os números também são expressivos em municípios como São Bernardo do Campo (785), Guarulhos (737), Campinas (565) e Santo André (545).
A Polícia Civil de São Paulo informou que, desde o início do ano, a Divisão de Investigações de Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas recuperou 74 motos e apreendeu 19.379 peças. A Polícia Militar afirmou que já fiscalizou mais de 73 mil motocicletas e apreendeu cerca de 12 mil em situação irregular.
*Com informações do jornal Extra