Familiares de vítimas comovem participantes de audiência da Comissão de Saúde em Taboão
A dor dos familiares dos dois jovens que perderam suas vidas recentemente no pronto socorro do Antena tomou conta do plenário da câmara municipal durante as mais de 5 horas de duração da audiência pública de saúde realizada nesta terça-feira, 31, na Câmara de Taboão da Serra. Não havia entre os participantes quem fosse capaz de ignorar o sentimento e irreparável dos parentes da jovem Rosemeire Manfrim, 25 anos e de Hélio Milke da Silva, 29. Ambos morreram no Antena e as famílias reclamam que houve negligência no atendimento.
A secretária Raquel Zacainner prestou contas da pasta, respondeu aos questionamentos e disse que o compromisso do governo é melhorar a saúde em Taboão. Ela citou os investimentos feitos, criticou a falta de repasse do governo federal para a UPA e disse que a meta da gestão é dar qualidade ao atendimento. Já os dirigentes da Sociedade Paulista de Medicina (SPDM), que gerencia os prontos socorros da cidade não compareceram e enviaram representantes.
Audiência pública transcorreu em clima de comoção durante mais de cinco horas. Todos os presentes fizeram falas pedindo esclarecimentos sobre os fatos que levaram a óbito os dois jovens. Coube a secretária de Saúde, Raquel Zaicaner, a missão de responder aos familiares. Ela cumpriu o papel sem fugir das suas responsabilidades. Se comprometeu a receber os familiares das duas vítimas e não escondeu o quanto era cortante e constrangedor ter que tratar das mortes, quando o compromisso da saúde é com a vida.
Raquel Zaicaner disse que era impossível não se comover com as mortes. Lembrou que a saúde Taboão estava um caos quando o atual governo assumiu. Ela disse que o governo ainda não fez tudo, mas que houve melhorias.
“Tenho certeza que nossa saúde está melhor do que as outras cidades da região. Prova disso é que nós temos 20% de pessoas de outras cidades sendo atendidas aqui em Taboão. Todo mundo aqui nessa Casa conhece gente que foi salvo nos nossos serviços de saúde. Eu não viria a essa audiência pública se não tivesse compromisso com a vida. Pra mim a vida é o bem maior. Mas não posso deixar de falar que nós fizemos mais de 18 mil atendimentos no Antena e mais de 14 mil atendimentos na UPA. Tenho que falar do esforço do prefeito Fernando Fernandes para resolver o problema da saúde aqui na cidade. O serviço hoje é muito melhor. Não posso esconder que a Upa é um engodo porque até agora nós não recebemos os mais de R$ 3 milhões que o governo federal deveria repassar à cidade”, relatou a secretária.
A presidente da Comissão de Saúde, vereadora Joice Silva, se solidarizou com as famílias enlutadas. Disse que só Deus pode confortar aos familiares e avisou que a comissão vai exigir respostas sobre as mortes.
Todos os vereadores presentes na audiência fizeram falas pedindo que haja mudanças de procedimentos no atendimento aos pacientes nas unidades de saúde Taboão da Serra, a fim de impedir que novas mortes venham acontecer na cidade.
A mãe da jovem Rosemeire Manfrin lamentou o fato de ter levado a filha com vida ao Antena e reclamou de ter recebido de forma fria o comunicado do falecimento dela. Logo no começo de sua fala ela emocionou os participantes ao dizer que não ia desejar bom dia porque como mãe ela jamais voltaria a ter um bom dia após ter perdido uma filha de forma tão inesperada e precoce. Graciele Manfrin, irmã de Rose, também usou a tribuna pra falar da perda dos familiares. Ela disse que é urgente a necessidade de mudanças no atendimento.
A esposa de Hélio Milke da Silva fez um pronunciamento emocionado e relatou a peregrinação que a família fez ao buscar de atendimento para ele, depois de descobrir que o jovem estava com dengue. O rapaz apresentava sintomas como febre alta, dores no corpo e manchas na pele. Ele chegou a ser atendido no pronto socorro da USP, mas também teve alta passou na UPA e foi ao Antena onde faleceu.
“O que eu faço agora? Tenho uma filha de 2 anos pra criar. Como eu vou fazer isso? Afirmou com voz embargada.
O vereador Moreira lembrou que em seis meses foram registradas nove mortes no Antena. Voltou a falar sobre o caso das gestantes que perderam a vida e que as famílias até agora não se conformam. Em tom firme Moreira declarou que a única diferença entre a Iacta e a SPDM era o fato de que a segunda custa mais caro à cidade.
O líder do governo, vereador Eduardo Nóbrega, disse que não abrirá mão de cobrar a equipe responsável pela saúde na cidade e que não abre mão de se cobrar junto. Ele chamou para si e para todos os vereadores a responsabilidade sobre atendimento de saúde prestada aos moradores de Taboão da Serra. Ele voltou a puxar a orelha dos dirigentes da SPDM na cidade os médicos Nancime e Jorge Salomão.
O presidente da câmara municipal afirmou que vai requerer que o Conselho Regional de Medicina (CRM) que agilize as investigações para dar resposta urgente sobre o atendimento dado aos dois jovens pacientes. Ele contou aos presentes que há uma semana enfrenta a dor de ver a própria mãe em coma no Hospital Geral do Pirajuçara, onde foi submetida a cirurgia de emergência.
O vereador Ronaldo Onishi pediu apuração de todas as mortes. Falando diretamente à esposa do jovem Hélio Milke ele disse que sentiu o coração partido ao ouvir o sofrimento da sua peregrinação. “Eu sinto a sua dor. Agora nós precisamos de uma resposta. Se tiver que punir os culpados assim o faremos”, alertou, acrescentando que era preciso alterar processos e procedimentos para evitar nova novas mortes.
Sandra Pereira