Luta pela sobrevivência em invasão no Rodoanel

Por Sandra Pereira | 4/11/2011

Há menos de 45 metros do Rodoanel Mário Covas, no sentido de Cotia, cerca de 20 famílias sobrevivem esquecidas longe de serviços básicos essenciais como saúde e  segurança. A área pertence ao Rodoanel. As famílias ocupam um trecho amplo entre a pista e um pedaço de mata. No local homens, mulheres, crianças e animais dividem a pobreza e a falta de estrutura, compartilham sonhos e lutam diariamente pela sobrevivência. Na expressão de sofrimento de cada um deles é possível ver o tamanho das dificuldades que enfrentam simplesmente para se manter vivos enquanto esperam dias melhores.

A maioria dos moradores do local está desempregada. A área parece um reduto de analfabetos, e pessoas com problemas de saúde que foram afastadas do emprego sem direito a benefício. Vários moradores do local invadido pagaram para morar lá e têm dúvidas sobre a propriedade da área. Os barracos foram adquiridos por preços que variam entre R$ 3 e R$ 6 mil. A maioria é feita de madeira, quando chove as enchentes são rotineiras.  “No meu barraco só não chove em cima da minha cama. Alaga tudo eu pego as crianças e jogo lá”, conta Aparecida Santos, 24 anos, com aparência sofrida de mais de 30.

As mulheres se limitam a ensinar os filhos a conviver com a adversidade e a ausência de quase tudo. Uma delas conta indignada que precisou ir a pé até o Hospital Geral do Pirajussara onde a filha nasceu há 10 meses. “Aqui não tem segurança nenhuma. Nem ir pra igreja a gente pode por causa dos estupradores e se a pessoa ficar doente a ambulância não vem”, reclama.

O sergipano Clevison Tenório de Souza, 30 anos, é um dos personagens mais marcantes do local. Ele morava num terreno próximo, numa área invadida, junto com os quatro filhos e os vários animais que cria. Sofreu uma ordem de despejo e foi espancado pelos seguranças do proprietário, depois disso acabou indo morar com as outras famílias, invadindo assim a parte mais próxima da pista. Para proteger as crianças e os bichos ele cercou a área com placas de madeira.

Homem de fé montou uma pequena sala de madeira onde acontecem os cultos única atividade das famílias do local. “No meio de tanta tristeza só Deus para confortar a gente. Eu to vivo hoje porque Deus é mais poderoso que os poderosos que tentaram me matar”, admite. “Eu vivo com medo, mas tenho que continuar lutando”, completa pensativo.

As crianças dele têm entre três e oito anos, mas, aparentam ser bem mais velhas. Habituadas ao sofrimento elas sorriem e falam pouco. Parecem resignadas com as limitações que a vida no local as obriga. A menina mais velha sonha em ser médica e quer ter filhos morando em uma “casa de verdade”. Ela conta tímida que um dia vai ter uma casa bonita. O olhar passeia no vazio quando o futuro é o assunto entre os quatro irmãos. “A gente é feliz aqui”, afirma.

Sem saber ler nem escrever Clevison sonha em garantir que os filhos estudem e se formem. Para incentivá-los usa sua própria história como exemplo. “Eu fui enganado porque não sei ler. Se eu soubesse não tinha assinado documento errado”, lamenta.

Na casa de madeira dele o telefone fixo contrasta com os demais móveis e levanta uma questão interessante. Os serviços públicos não chegam até o local mas a telefônica chega com o serviço e conta mensal.

Os cachorros que moram no lugar são o consolo das crianças, assim como os demais animais. Até vacas e cavalos vivem no local. Os donos as tratam como se fossem da família na tentativa de minimizar o sofrimento deles também.

A situação das 20 famílias sem moradia no limite entre as cidades de Embu e Cotia  é a mesma de outras cinco milhões de pessoas desprovidas do direito à moradia digna no Estado de São Paulo. Segundo as entidades que atuam na área o déficit habitacional em São Paulo é de 1,2 milhão de moradias.

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