Instagram: quais são suas consequências na saúde mental?

Por Outro autor | 22/11/2019

Por Bruna de Jesus

O número de pessoas com depressão aumentou no Brasil. Segundo o relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2017, totalizou 5,8 milhões de diagnosticados com a doença. No mesmo ano, uma pesquisa realizada no Reino Unido atribuiu o uso das redes sociais à saúde mental. O aplicativo Instagram foi eleito o mais prejudicial.

Para quem já obteve o diagnóstico de depressão, é o início de um longo percurso. A auxiliar contábil Valesca da Silva, quando diagnosticada com a doença, afirma ter sido um momento complicado, pois teve medo. Por vezes, pensou que não iria conseguir. Porém, ela está levando aos poucos e entende que faz parte de sua vida.

A auxiliar administrativa Camila da Silva também teve dificuldades ao receber a prescrição médica sobre seu estado de saúde. Camila afirma que não queria aceitar a doença. “A gente sempre quer está bem, quer sempre ser o melhor, eu acho que isso faz parte de ser um ser humano  ter esse ego inflado ao ponto de não aceitar que está doente e que precisa de um tratamento.” relata.

Na contramão, o fotógrafo Bruno Jorge recebeu a notícia mais como uma constatação do que como uma frustração. “O diagnóstico pra mim não teve muito impacto em si, porque eu meio que já sabia. Por já ter convivido, conversado com outras pessoas eu já tinha a percepção do que tava acontecendo comigo”.

Mas como é definida essa patologia? O psiquiatra Fernando Duarte que atua há 9 anos afirma que 70% de seus pacientes tem depressão. “A gente ainda diz que as causas são muito desconhecidas”. Provavelmente, isso acontece por ser uma doença multifatorial que somente se vê os fatores de risco. Então, quanto mais traumas a pessoa tem na vida, maiores são as chances dela desenvolver depressão. “Só que não é obrigatório, tem um monte de gente que passa por um montão de traumas e não tem nada, e tem gente que não sofre trauma nenhum e que tem depressão”, garante Duarte.

O diagnóstico é feito baseado em critérios. Psicólogos e psiquiatras brasileiros utilizam regras estabelecidas conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). De acordo com o livro existem dois sintomas principais: o primeiro, tristeza na maior parte do tempo e o segundo indício é o entristecimento com duração mínima de duas semanas. Já todos os outros sintomas depressivos, como alteração do sono, de apetite, pensamentos recorrentes de culpa, arrependimento, mágoa, dificuldade de concentração, cansaço físico, entre outros, são complementares.

A psicóloga Lucilene Nunes, primeiro costuma conhecer o paciente para depois entender o que de fato a pessoa está passando. “Então, quando o paciente chega para mim, eu tento, de primeiro momento, escutar o que ele me traz, porque muitos pacientes chegam dizendo estar com depressão” A psicóloga ainda explica que não gosta de dar o diagnóstico pois prefere primeiro conhecer o paciente. “Eu prefiro trabalhar de uma outra forma, quero ouvir a história dela, e aí depois eu perceber, só se ela estiver num quadro bem mais grave, aí sim é encaminhamento pro psiquiatra.” justifica Lucilene.

O psiquiatra Fernando Duarte e a psicóloga Lucilene Nunes tem visões iguais em relação a utilização do Instagram por parte das pessoas diagnosticadas com depressão. Para Lucilene o aplicativo é um mal perante a sociedade. “Se não souber lidar ocorrerá uma projeção da vida do outro e com isso, muitos adoecem por não verem em suas vidas tanto brilho, quanto aquilo que se expõe no aplicativo”. O psiquiatra Duarte contou que alguns de seus pacientes deixaram de usar a plataforma por sentir que tudo aquilo que é publicado faz mal “Ficar comparando a própria vida com aquilo que eles veem no Instagram era muito triste, ou mesmo de achar aquilo tudo um grande festival de falsidade.”

Bruno é um exemplo dessa idealização da vida do outro para si “Eu acompanho colegas de profissão também e vejo o desenvolvimento deles, o sucesso deles, eu vejo coisas que eu não consigo fazer. Eu vejo pessoas que eu conheço que eu sei que eu me esforço mais do que eles para poder conseguir. Então é uma situação um pouco frustrante.”

Em contrapartida, Camila prefere evidenciar sua vida em busca de valorização. "O Instagram fez com que eu redescobrisse minha autoestima, redescobrisse meu cuidado comigo mesma.” A partir disso a auxiliar administrativa passou a aumentar suas publicações. “Então eu comecei a tirar fotos mais bonitas, comecei a me arrumar, porque eu gosto de me sentir bem comigo mesma, pois querendo ou não, todo mundo gosta de ser elogiado.”

Em Março de 2019, o Instagram passou a oferecer apoio à pessoas por meio da hashtag depressão. O psiquiatra Duarte menciona que o esforço promovido pela empresa gera benefícios. “Tem muita gente deprimida usando aquilo e se eles tem um pouco de responsabilidade social, acho justo que eles façam alguma coisa assim.”

 

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