/

Peça conta trajetória da guerrilheira alemã Ulrike Meinhof em forma de podcast, apresentado ao vivo para o público

Por Outro autor | 26/08/2022

Divulgação - Google Imagens Com direção de Clayton Mariano e Maria Tendlau, espetáculo usa a estrutura de um podcast e parte do texto da austríaca Elfriede Jelinek, um dos grandes nomes do teatro contemporâneo, traduzida por Artur Kon. A peça é apresentada em três episódios, qu

De 9 a 25 de setembro, estreia no Galpão do Folias o espetáculo O Caso Meinhof, montagem do Teatro do Fim do Mundo livremente inspirada no texto Ulrike Maria Stuart, da ganhadora do Nobel de literatura Elfriede Jelinek. A partir da história da RAF, grupo terrorista alemão dos anos 70 (com as mulheres Ulrike Meinhof e Gudrun Ensslin na lideranc?a), a pec?a discute o fracasso e a heranc?a dos movimentos revolucionários do século XX, além de debater a presença das mulheres na liderança de processos políticos, entre outros temas que se mostram urgentes no Brasil de hoje. Este foi um projeto contemplado pela 12ª Edição do Prêmio Zé Renato da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo

Ulrike Maria Stuart é com frequência considerada a mais importante pec?a de Elfriede Jelinek, autora fundamental para a dramaturgia contempora?nea, apesar de sua obra ainda ser pouquíssimo encenada no Brasil. Foi a primeira lançada após ela ser premiada com o Nobel em 2004.  

Ao tratar de temas fundamentais para pensar o tempo em que vivemos – o aparente fracasso dos projetos revolucionários, o perigo da violência autoritária por parte de quem deseja mudar o mundo, e ao mesmo tempo a impossibilidade de se conformar a uma ideia de que o mundo não pode ser transformado – a pec?a se faz urgente em um contexto brasileiro de crise profunda, em que a imaginac?ão política se vê travada pelo peso excessivo dos vícios históricos do país. 

Para narrar essa história, o grupo transformou a trajetória de vida da terrorista Ulrike Meinhof em um podcast, apresentado em cena pelos filhos da guerrilheira, vividos por Artur Kon e Mariana Otero. A história se divide em três episódios: todas as noites, o elenco - completado por Carla Massa, Clayton Mariano, Maria Tendlau e Marilene Grama - apresenta 3 programas de 50 minutos cada. O público pode ver os episódios de maneira independente ou assistir um espetáculo de quase 3 horas numa noite, com dois intervalos. 

Mas a pec?a também pode ser lida como uma disputa entre três figuras – um pai, uma mãe e a rival desta – pela influência sobre os filhos do casal. Essa trama aparentemente banal, digna de um drama familiar, é na verdade metáfora para os rumos da esquerda no fim do século XX e início do XXI. E o grupo parte desse conflito de gerações para criar uma proposta de encenac?ão. Para tal, reuniram duas gerac?o?es de artistas de teatro, materializando assim a disputa travada na pec?a. De um lado, Clayton Mariano e Maria Tendlau representam os pais, ao mesmo tempo que dirigem o espetáculo; os dois fazem parte da gerac?ão de artistas de teatro que se engajou na luta por políticas públicas para a cultura, dando origem a? Lei de Fomento ao Teatro e a programas como o Vocacional, por exemplo. Marilene Grama, mais jovem, representa Gudrun Ensslin, companheira e rival de Ulrike. Já Artur Kon e Mariana Otero encarnam os filhos do casal, representando a mais nova gerac?ão de artistas, que busca refazer a luta da gerac?ão anterior, mas em um contexto bastante transformado. 

Do histórico ao fantasioso

O espetáculo parte de um fato curioso: os quatro principais integrantes da RAF (ou Grupo Baader-Meinhof) tiveram seus cérebros retirados para estudos após a morte na prisão. Houve inclusive quem afirmasse que uma lesão no de Ulrike teria sido responsável pelo comportamento violento e consequentemente sua atividade de terrorista. Só décadas depois a filha (já adulta) de Meinhof conseguiu na justiça reaver e enterrar o cérebro da mãe; nessa ocasião, descobriu-se que os três outros haviam desaparecido misteriosamente.

A partir desses estranhos fatos, a peça do Teatro do Fim do Mundo inventa o misterioso roubo do cérebro de Ulrike: na verdade os próprios filhos dela teriam se reapossado do encéfalo preservado em um vidro, para tentar se comunicar com ele. Então, na casa de seu pai reacionário (onde moram desde que ela entrou para a clandestinidade), fazem um podcast para investigar a verdade sobre a morte da mãe. A cada episódio confrontam um entrevistado envolvido na história, mesmo que para isso precisem buscar meios pouco convencionais de comunicação, inclusive com os mortos.

Sobre o Teatro do Fim do Mundo

O Teatro do Fim do Mundo é uma plataforma criada por Artur Kon em 2016 para juntar-se a outros artistas interessados em pensar o que pode ou deve fazer o teatro diante da destruição social experimentada desde aquele momento no Brasil e no mundo, desafiando a perplexidade e impotência que parecia dominar. Em seus primeiros trabalhos, deparou-se com a dramaturgia radical da austríaca Elfriede Jelinek, cuja obra busca revitalizar uma tradição de teatro político fazendo-a enfrentar sem subterfúgios as dificuldades e impasses impostos pelo presente. Em Sem Luz, uma catástrofe nuclear servia de metáfora e lugar concreto para pensar a continuidade da existência em uma situação de total desorientação. Agora, em O caso Meinhof, a história de derrotas da esquerda no século XX traz para essa reflexão um caráter explícito e urgente.

 

Serviço
O Caso Meinhof - Estreia dia 9 de setembro, sexta, às 19 horas, no Galpão Folias. Temporada: de 9 a 25 de setembro, sexta a domingo. Recomendação etária - 14 anos. Ingressos - R$20,00 / R$10,00 para uma sessão - R$40,00 / R$20,00 pacote para três sessões 
Horários:
19h - PROGRAMA 1, "Quem tem medo de Ulrike Meinhof?"
20h - PROGRAMA 2 "Quem matou Ulrike Meinhof?"
21h - PROGRAMA 3 "Quem quer ser Ulrike Meinhof?"
Duração de cada sessão: 50 minutos
Galpão do Folias - R. Ana Cintra, 213 - Santa Cecília - Próximo da Estação Santa Cecília / Terminal de ônibus Amaral Gurgel
Capacidade - 70 lugares
 
 
Ficha técnica
livremente inspirado em ULRIKE MARIA STUART, de Elfriede Jelinek
Direção: Clayton Mariano e Maria Tendlau
Tradução e dramaturgismo: Artur Kon
Elenco: Artur Kon, Carla Massa, Clayton Mariano, Maria Tendlau, Mariana Otero e Marilene Grama
Direção de arte e material gráfico: Renan Marcondes
Cenotecnia: Matias Arce
Desenho de luz, direção e operação técnica: Cauê Gouveia
Trilha original: Renato Navarro
Confecção das golas: Antonio Slusarz
Palestrantes convidadas: Amara Moira, Bárbara de Barros, Carla Rodrigues, Eliane Robert Moraes, Juliana de Moraes Monteiro e Marília Moschkovich
Fotografia: Renan Marcondes (divulgação) e Cacá Bernardes (temporada)
Direção de produção: AnaCris Medina | Jasmim Produção Cultural

 

 

 

 

As matérias são responsabilidade do Jornal na Net, exceto, textos que expressem opiniões pessoais, assinados, que não refletem, necessariamente, a opinião do site. Cópias são autorizadas, desde que a fonte seja citada e o conteúdo não seja modificado.