Ivan fala sobre Noventa e as fraudes em Taboão
12/08/2011 | Sandra Pereira
O investigador chefe da Delegacia Seccional de Taboão da Serra, Ivan Jerônimo da Silva, fez declarações firmes e incisivas sobre as afirmações do vereador Valdevan Noventa (PDT), durante a entrevista coletiva concedida à imprensa nesta quinta-feira (11). O investigador traçou um balanço da crise, e, disse que as investigações sobre a prefeitura de Taboão da Serra acontecem em várias frentes. Ele revelou detalhes dos momentos que antecederam as prisões de vereadores e secretários municipais acusados na fraude do IPTU em Taboão. O chefe dos investigadores disse que a cidade está sendo passada a limpo e revelou que o prefeito Evilásio Farias está sendo investigado pela Delegacia Seccional.
Ivan disse desconhecer que o vereador Noventa venha sendo perseguido pela polícia. Ele afirmou que o vereador é investigado em diversos procedimentos da Delegacia Seccional por ter ligações estreitas com o crime organizado, inclusive com o chefe de uma facção da favela do Paraisópolis.
“Volto a afirmar e reafirmar o Noventa é envolvido com o crime organizado. Não é à distância. A relação entre eles é muito próxima”, salientou.
O investigador observou que o fato de Noventa não estar preso demonstra que ele não sofre perseguição da polícia. “Ele não está preso por não haver perseguição. No momento certo ele será preso, na hora em que cometer um deslize”, contou. “Ele não foi preso nessas operações (da fraude do IPTU) porque o tipo de crime que estavam cometendo na administração pública requer um pouco mais de inteligência coisa que ele não tem”, disparou.
Ivan Jerônimo disse que as investigações da polícia mostram que Noventa comprou um posto de gasolina que era do Ney Santos e intermediou a contratação de Baia (acusado de praticar assaltos) na Câmara Municipal. “Toda vez que dá um problema Noventa diz que não conhece ninguém. Ele nunca sabe e nem conhece ninguém. Mas não foi outro vereador que mandou contratar o Baia, foi ele”, insistiu.
Sobre o fato de Noventa ter anunciado que não vai disputar eleição o investigador afirma que a desistência se dará porque o vereador sabe que não seria eleito novamente. “Ele não é mais candidato porque sabe que não seria reeleito. É como jogador de futebol sabe a hora de parar. Se ele não parar vai acabar sendo preso e não vai ser reeleito”, prevê.
Para ele, Noventa está fazendo discurso contra a polícia para tentar cooptar, ganhar dinheiro ou salvar alguém politicamente. “É um plano para taxar a operação de política. Estamos fazendo a investigação dentro da lei, apartidária, tanto é que foram presas diversas pessoas, inclusive do PMDB, do deputado Caruso de quem sou amigo e de toda a família”, ponderou.
Ivan disse que Noventa já fez declarações contra a Seccional anteriormente, entretanto, dias depois enviou advogados até lá com pedidos de desculpa. “A polícia vai estar sempre de olho nele. Porque simplesmente ele não perderá o vínculo com o crime organizado”, analisou.
O investigador falou sobre a relação com o deputado Caruso, comentada na entrevista de Noventa. “O Caruso é meu amigo pessoal. É meu compadre e não vejo nenhuma ilegalidade nisso. A Lei orgânica da polícia diz que eu não posso ser amigo de pessoas ligadas ao crime organizado. Para mim seria problema se eu fosse amigo ou compadre do vereador Noventa”, disparou.
O investigador faz uma análise negativa dos poderes Executivo e Legislativo de Taboão. Segundo ele o Executivo está praticamente todo contaminado e parte do Legislativo também. “Os vereadores através da CEI têm que demonstrar que não estão ligados com o crime. Fica complicado se a CEI chegar ao final e ninguém for punido. Eles vão ter que cumprir o seu papel porque a sociedade está de olho”, sentenciou.
O chefe dos investigadores disse que não tem fundamento a declaração de Valdevan Noventa de que a investigação do IPTU tem cunho político, além disso, observa que o pleito eleitoral está distante.
Vários secretários na mira
O investigador revelou que várias secretarias e secretários municipais de Taboão da Serra estão sendo investigados pela polícia, e, antecipou que há uma investigação em andamento sobre a secretaria de Cultura e a comissão de revisão do IPTU, que ele acredita ter sido criada para enganar a população em razão do aumento abusivo do imposto. “É difícil apontar qual é a secretaria que não tem nada em andamento. Prefiro não comentar. Eles ganhavam dinheiro reduzindo o valor do imposto. Os consumidores beneficiados pelo esquema também estão sendo investigados”, aponta.
Ivan Jerônimo compara a investigação da corrupção em Taboão da Serra com uma hemorragia que precisa ser estancada. Ele acredita que a fraude no IPTU diminuiu, mas, não acabou. “Nós temos documentos recentes que comprovam diferenças de valores nos balanços da dívida ativa. Diminuiu, mas não acabou. Estamos trabalhando pesado. Já cheguei a ficar direto mais de 20 horas escrevendo o relatório. Tem muito documento, muitos inquéritos instaurados”, contou.
O investigador disse que diariamente atende várias pessoas entre prefeitos, vereadores, lideranças e populares que vão fazer denúncias ou pedir policiamento. Ivan diz que após o início das investigações passou a ter mais contato com alguns vereadores da cidade. “De Taboão da Serra nunca fui na casa de vereador algum não sei de onde tiram essas informações”, argumenta.
Evilásio é investigado
Já no final da entrevista o investigador chefe revelou que o prefeito Evilásio Farias está sendo investigado pela Delegacia Seccional, e, disse que manteve contato profissional com o prefeito no começo das investigações. Segundo ele, quando houve a prisão de Márcio Carra, diante da gravidade do caso, a Seccional avocou o inquérito e o prefeito o procurou para conversar. Ambos marcaram um encontro fora da cidade para não dar a entender que ele (prefeito) estaria repassando informações à polícia.
“Hoje diante dos documentos que existem há ligação do prefeito com o crime. Fizemos contato com a redação da Folha para pedir cópia dos documentos. Vamos apurar mais essa ilegalidade”, avisou.
De acordo com o investigador ficou patente que o prefeito atribua tudo que acontecia ao vereador Carlos Andrade. No encontro de ambos fora da cidade, Ivan disse que anotou tudo que o prefeito o passou, e, durante as investigações detectou outras pessoas envolvidas na fraude, entre elas o vereador Arnaldo. “O prefeito ficou surpreso eu falei que ia levaria investigação até o final. Ele falou que eu estava fazendo um favor para a sociedade, que se eu prendesse os 13 vereadores faria um favor para Taboão da Serra, naquele momento eu acreditei”, afirmou.
O investigador relatou que quando a investigação chegou aos secretários, o prefeito tentou atrapalhar o trabalho da polícia e demorou a enviar os documentos solicitados.
“A credibilidade que eu depositava no senhor prefeito hoje não existe mais. Tanto é que durante a investigação ele tentou me ligar duas vezes e eu não atendi mais e não atendo. Meu relacionamento com ele era cordial, a partir do momento que ele tentou direcionar as investigações percebi que ele faltou com a verdade e quis usar a polícia para atingir os seus objetivos”, contou.
Ivan diz estar otimista de que após esse período turbulento Taboão deve tomar outro rumo independente de quem seja o prefeito. Uma vez que a cidade está sendo passada a limpo. O investigador orienta que antes de votar os eleitores devem pesquisar o passado e o presente dos candidatos e tentar uma referência futura.