Jovens de baixa renda de Embu produzem curtas-metragens
10/04/2011
O sonho de produzir um curta-metragem, escrever roteiro, filmar e contracenar tornou-se real para um grupo de 22 alunos, em sua maioria, moradores de baixa renda de Embu, no período de quinze dias por meio do Projeto Oficina Tela Brasil. Os alunos foram divididos em três grupos e cada um produziu um curta-metragem. Três foram produzidos e apresentados neste sábado, dia 09, no Complexo Educacional Valdelice.
Criativos e com muito talento, os grupos abordaram em seus curtas-metragens temas diferentes e características peculiares. O último desejo, o primeiro a ser exibido, mostrou a importância da vida, e como ela vale à pena. “A ideia era mostrar como as pessoas (Erick, ator do curta), desperdiçou a vida e só se deu conta depois que morreu. Vale a pena viver cada detalhe da vida”, comentou um produtor do curta.
O documentário “Embu de Todas as Artes”, o segundo curta a ser exibido, abordou três artistas da cidade que não são conhecidos pelos moradores. “Parte da ideia do documentário, é mostrar que Embu está mais além de artesanatos e feiras, pois questionamos esse elemento, os artistas que não são divulgados na cidade, quase ninguém conhece”, disse Vitor Hugo Scotton, um dos produtores do documentário.
Um brinde a estupidez, o último curta a ser exibido, envolve realidade com ficção, as maneiras como o amor entre casais é tratado e como qualquer motivo é tema para brigas, ignorância e estupidez.
A exibição dos curtas-metragens que foi acompanhada de perto pelo cineasta Bruno Barreto [Tropa de Elite I e II], recebeu elogio e dicas. Bruno Barreto dividiu com os alunos parte de suas experiências no cinema. “Fiquei impressionado com o nível técnico, linguagem, maneira de filmar. Adorei as três edições que estavam muito boas, os curtas foram muito bem dirigidos. Cada um [dos curtas-metragens] tem uma visão muito clara do que querem passar, com começo, meio e fim e são bem direcionados. Esses curtas são filmes, não rascunhos de filmes, os três grupos são cineastas”, opinou.
Bruno Barreto elogiou os curtas-metragens produzidos
Satisfeitos e visivelmente realizados, os alunos expressaram o sentimento de produzir os curtas e também contracenar. “Pra mim foi uma novidade, nunca tinha atuado antes. A experiência está sendo gratificante, vou levá-la para sempre e penso em realmente seguir a carreira de ator, ou produtor de filmes”, disse animado Erick, ator do curta sobre morte.
Para um dos produtores, essa oficina é só o começo para a carreira que ele vai seguir. “Antes não sabia qual profissão queria seguir e agora eu quero sim trabalhar na produção de filmes. Agora tenho plena certeza que eu quero seguir a carreira. Esse projeto deu a certeza e também motivação para o que eu quero para toda a minha vida”, finalizou.
Conheça o Projeto
O Projeto Oficinas Tela Brasil, criado pela cineasta Laís Bodanzky e o roteirista Luiz Bolognesi, em 2007, já produziu com 1.364 alunos que já passaram pelas oficinas itinerantes, 186 curtas-metragens desenvolvidos por jovens de baixa renda em 62 cidades de todo o Brasil. Com Embu 63 cidades e mais três curtas-metragens.
Dezenas dos vídeos produzidos nas Oficinas Tela Brasil foram premiados em importantes festivais, como o Tia Dita (20º Festival Internacional de Curtas de São Paulo, VIII Festival Araribóia em Niterói e 16ª edição do Vitória Cine Vídeo, em Vitória); Pão com mortadela e meia mussarela (19º Festival de Curtas de São Paulo, Goiânia Mostra Curtas, Visorama 3, Festival Visões Periféricas e CineCufa 2009); Dr. Poporowiscky (4º Festival de Jovens Realizadores de Audiovisual do MERCOSUL Festival CineCufa); além disso, 32 dos 161 vídeos selecionados para o CineCufa - Festival Internacional de Filmes de Periferia (Rio de Janeiro, 2009) são frutos das Oficinas Itinerantes de Vídeo Tela Brasil.
Durante as oficinas os jovens aprenderam as técnicas de produção, roteiro, direção e edição de vídeo. Para garantir a presença dos alunos, cada um recebeu uma ajuda de custo para transporte e pesquisa no valor de R$ 110,00. “O objetivo do projeto em Embu, era chegar em lugares que não tem essa oferta de cultura, sala de cinemas”, finalizou Marina Santonieli, coordenação pedagógica do projeto.